Waldir Maranhão foi flagrado em conversas
intercedendo por negócios de Fayed Traboulsi, responsável pela 'sucursal' do
banco do petrolão em Brasília
Por: Rodrigo Rangel, de Brasília
Deputado Waldir Maranhão (PP-MA)(Gustavo
Lima/Câmara dos Deputados)
Alçado à cadeira de presidente da Câmara com a decisão do Supremo
Tribunal Federal de afastar Eduardo Cunha, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA) é
um legítimo representante do baixo clero do Congresso Nacional. Aliado de
Cunha, a quem já prestou alguns valiosos favores - como assinar despachos
destinados a retardar o processo de cassação do peemedebista -, a última vez
que Maranhão teve seus minutos de fama foi na votação do impeachment de Dilma Rousseff.
Ele era tido, até então, como voto certo pela saída da presidente.
Mas, de
última hora, cortejado pelo PT e convidado a visitar o bunker montado pelo
ex-presidente Lula em um hotel de Brasília, mudou de lado. Com a sessão já em
curso, e ladeado por próceres petistas, Maranhão correu para anunciar que
votaria contra o impeachment. Ele é conhecido como um político que, digamos,
não desperdiça oportunidades. Não por acaso, e a despeito da amizade com
Eduardo Cunha, na quinta-feira ele não se fez de rogado quando surgiu a chance
de substituí-lo: tão logo saiu a liminar do ministro Teori Zavascki, correu
para ocupar o gabinete do amigo.
Veterinário por formação, e no exercício de seu terceiro mandato de
deputado federal, Maranhão foi eleito vice-presidente da Câmara em fevereiro do
ano passado. Junto com Cunha. E com a bênção de Cunha. Como um parlamentar
atento a oportunidades, Maranhão, claro, não deixou o petrolão passar batido -
e, por isso, integra o extenso rol de excelências investigadas pela Operação
Lava Jato: está entre as dezenas de deputados e senadores que, em troca de
apoio ao governo, recebiam do doleiro Alberto Youssef parcelas regulares da
propina oriunda dos desvios na Petrobras. Como um parlamentar atento a
oportunidades, Waldir Maranhão aparece enredado em outras histórias
comprometedoras que também estão sob a lupa das autoridades. Uma delas, repleta
de provas robustas, está em poder da Procuradoria-Geral da República há pelo
menos dois anos. Diz respeito à parceria entre Waldir Maranhão e um conhecido
doleiro de Brasília, Fayed Traboulsi.
Fayed comandava, na capital da República, um esquema de corrupção
paralelo à rede de Youssef no petrolão. Por vezes, a dupla de doleiros fazia
parcerias pontuais. Como Fayed mantinha suas operações em Brasília, nas
emergências o paranaense Youssef utilizava seus serviços - o esquema
brasiliense funcionava como uma espécie de sucursal do banco clandestino do
operador do petrolão. Em comum, sempre, a ligação estreita entre os doleiros e
personagens do mundo da política. Fayed, porém, tinha seus próprios negócios.
Um deles, desbaratado pela Operação Miqueias, uma parceria da Polícia Federal
com o Ministério Público do Distrito Federal, tinha por objetivo vender títulos
podres a fundos de pensão de servidores públicos. O esquema, que desviou mais
de 50 milhões de reais, funcionava graças à sempre lucrativa joint-venture como
os políticos. Eles abriam caminho para que os negócios saíssem e, em troca,
recebiam uma parcela do lucro na forma de propina. É justamente aí que entra o
sucessor de Eduardo Cunha na presidência da Câmara.
Em um dos casos que caíram na malha da investigação, Waldir Maranhão
aparece como intermediário de um "negócio" de 6 milhões de reais com
a prefeitura de Santa Luzia, no interior maranhense - com a ajuda do agora
presidente da Câmara, a quadrilha vendeu títulos para o fundo de pensão dos
servidores municipais. Em troca, o deputado recebeu 1% da operação: 60 000
reais. Um participante do esquema contou aos investigadores que uma parte da
comissão, 10 000 reais, foi depositada na conta da mulher de Waldir Maranhão. O
pedido, disse a testemunha, foi feito pelo próprio deputado, que
"precisava do dinheiro para pagar uma viagem para o Rio de Janeiro"
às vésperas do réveillon.

Durante as investigações, Waldir Maranhão foi flagrado em conversas
telefônicas com o doleiro quando o esquema estava no auge. Nos diálogos, o
deputado aparece como um legítimo funcionário do doleiro - obediente, ele marca
encontros de Fayed com prefeitos aliados, faz visitas a autoridades para
resolver assuntos de interesse do esquema e atua como um diligente captador de
novos negócios para a quadrilha.
"Confirmou para amanhã a nossa reunião?", pergunta o doleiro
ao deputado, que responde prontamente: "Nós estamos trabalhando". As
reuniões, quase sempre, eram com outros políticos que se encarregariam de
autorizar a compra dos títulos negociados pela quadrilha. A parceria era tão
produtiva que, por vezes, se estendia a outros negócios. Num deles, Maranhão se
compromete a "convencer" um prefeito amigo a liberar um dinheiro
devido a um parceiro da quadrilha. "Parece que o negócio é grande e a
gente consegue fazer um negócio bom aí", avisa o doleiro. "Eu tô
sabendo. Aí, chegando, a gente articula", responde o deputado.
"Negócio", no caso, não era no sentido figurado: em troca dos
serviços prestados, Waldir Maranhão era remunerado pela quadrilha. A seguir,
alguns dos diálogos:
1) "Tá caminhando, viu?"
08nov2012 15:27:20
O deputado Waldir Maranhão faz a aproximação do doleiro Fayed Traboulsi
com o então prefeito eleito de Campo Grande (MS), Alcides Bernal, seu colega de
partido. O doleiro estava interessado em fechar negócios com a prefeitura.
Doleiro - Fala, meu querido!
Deputado - Meu irmão!
Doleiro - Tudo bem, irmão?
Deputado - Veja só: o Bernal está em Brasília e deixei o Luís Carlos aí
com a missão de levá-lo ao seu encontrou, viu?
Doleiro - Pois é, estou aguardando eles, inclusive. O Luís Carlos disse
que tá com ele aí, né?
Deputado - Como eu vim para o Tocantins, eu tratei só por telefone, mas
tá caminhando, viu?
Doleiro - Tá. Então eu fico no aguardo. Eles vêm agora à tarde, né
Deputado - É interessante a sua conversa.
2) "Marabá ok, fechado" (Veja
o diálogo)
21nov2012 21:33:53
Duas semanas após o encontro em que o prefeito de Campo Grande foi
apresentado ao doleiro, Waldir Maranhão volta a intermediar um encontro entre
os dois, em Brasília. O deputado também avisa que o "negócio" na
cidade de Marabá, no Pará, já estava "ok".
Doleiro - Fala, chefe.
Deputado - Meu irmão, tudo bem?
Doleiro - Tudo.
(...)
Deputado - Deixa eu lhe dizer: amanhã quem vai estar aqui é o Bernal, lá
de Campo Grande. Já teve com ele, né?
Doleiro - Já, sim. Eu já estive conversando da outra vez com ele. Mas eu
tô indo pra São Paulo às oito horas da manhã e volto às duas da tarde.
Deputado - Eu acho assim: se você tiver um tempinho, à noite, eu acho
que vale a pena convidá-lo para ter uma conversa social, tá? Uma sugestão, uma
sugestão, tá?
Doleiro - Claro, claro (...) Amanhã eu vou te ligar assim que eu chegar
aqui em Brasília eu te ligo para você ou fazer contato com ele ou me dar o
telefone dele pra mim falar com ele, tá?
Deputado - Eu vou te passar logo o telefone dele porque um convite seu é
diferente, viu?
Doleiro - Pois eu estou sem poder anotar aqui.
Deputado - De manhã eu te passo, então. Outra coisa: Marabá ok, fechado.
Doleiro - Beleza. O meu pessoal tá lá já.
Deputado - Tá fechado lá. Agora, só as providências.
3) "Nós estamos trabalhando" (Veja
o diálogo)
26nov2012 16:10:22
Os diálogos mostram que o Waldir Maranhão era uma espécie de secretário
de luxo do doleiro, que usava os contatos políticos do deputado para facilitar
novos negócios da quadrilha. Em mais de uma oportunidade, Fayed cobra encontros
prometidos por Maranhão.
Doleiro - Fala meu deputado, tudo bem?
Deputado - Oi meu irmão! Tudo bem?
Doleiro - Confirmou para amanhã a nossa reunião?
Deputado - Nós estamos trabalhando...
Doleiro - Porque você tinha me falado que seria amanhã.
Deputado - Eu tô aí amanhã. Ele me disse que 'taria' amanhã aí, viu? Eu
vou checar. Ele me disse que estaria aí amanhã.
Doleiro - Dá uma checada que eu já tô aqui de prontidão para conversar
com ele.
Deputado - Tranquilo, viu? Eu amanheço aí. Mas eu confirmo com ele.
Doleiro - Se eu tiver que voltar lá eu volto. Não tem problema, não,
também.
Deputado - Tranquilo, eu tô antenado.
4) "Eu estou aqui no Palácio dos Leões"
03dez2012 14:39:55
O agora vice-presidente da Câmara também intercedeu pelos interesses da
quadrilha do doleiro junto ao governo do Maranhão.
Deputado - Veja só, eu estou aqui no Palácio dos Leões [sede do governo
maranhense], viu? E as notícias 'é' a melhor possível, tá?
Doleiro - Como?
Deputado - As novidades, as melhores 'possível'. Daqui a pouco a gente
se encontra.
Doleiro - Tá. Eu tô aqui no hotel.
Deputado - Tá ok.
5) "Você é mais experiente do que eu e conhece todos"
03dez2012 21:45:32
No mesmo dia da visita à sede do governo do Maranhão, o deputado e o
doleiro se falam mais uma vez. Fayed estava preocupado com o desenrolar de uma
das parcerias da duplas.
Doleiro - Chefe, me fala uma coisa. Oi, tá me ouvindo bem?
Deputado - Estou, estou.
Doleiro - Me diga uma coisa: qual é a sua percepção com relação a isso
tudo? O que você tá achando? Você é mais experiente do que eu e conhece toidos.
Deputado - Não, não (trecho ininteligível). Positiva.
Doleiro - Hein?
Deputado - Positivo.
Doleiro - Positivo?
Deputado - Positivo.
Doleiro - Então, tá. Tá bom, então.
6) "A gente consegue fazer um negócio bom" (Veja o diálogo)
06dez2012 08:57:43
A parceria entre Waldir Maranhão e o doleiro Fayed envolvia negócios
diversos. Neste diálogo, Fayed aciona o deputado para convencer um prefeito
amigo a liberar um pagamento. O negócio renderia dividendos a todos os
envolvidos
Doleiro - Você tava com o prefeito Maurinho?
Deputado - É. Deixa eu te dizer: ele vai estar comigo. Eu estive com ele
ontem. E ele vai estar hoje à noite aí. Eu vim a São Paulo.
Doleiro - Eu precisava me encontrar com você e com ele.
Deputado - Ok, eu organizo.
Doleiro - Mas você organiza para hoje à noite sem falta?
Deputado - Eu ligo. Ok. Eu saio daqui a umas três horas. Ao chegar eu te
ligo pra gente articular. Viu?
Doleiro - Eu estou com uma pessoa que tem um negócio pra receber lá e
parece que o negócio é grande e a gente consegue fazer um negócio bom aí.
Deputado - Ok.
Doleiro - É uma merenda que o cara fornece lá. Uma merenda escolar. Você
tá sabendo?
Deputado - Eu tô sabendo. Aí, chegando a gente articula.
Doleiro - O cara tá na minha mão. A gente consegue resolver isso.
Deputado - Tranquilo, viu?
Procurado, o deputado negou que tenha recebido quaisquer benefícios
indevidos, reiterou que já prestou depoimento sobre o assunto, afirmou que
"está à disposição das autoridades para esclarecimentos" e que não
tem "nenhuma" relação com o doleiro Fayed Traboulsi.
Comissão do impeachment aprova parecer e abre caminho para afastamento
de Dilma
Colegiado
aprovou parecer do senador Antonio Anastasia; plenário vai analisar impeachment
no dia 11
Por: Laryssa Borges, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff durante
cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - 04/05/2016(Ueslei
Marcelino/Reuters)
Por quinze votos a cinco, a comissão especial do impeachment no Senado
aprovou nesta sexta-feira parecer do senador tucano Antonio Anastasia (PSDB-MG)
favorável ao prosseguimento do processo que deve levar a presidente Dilma
Rousseff a deixar o governo antecipadamente. O veredicto do colegiado é a etapa
final antes de o plenário da Casa, em sessão agendada para o dia 11, colocar em
discussão e votação o afastamento por até 180 dias da petista.
No parecer, o parlamentar afastou a tese petista de golpe, disse que o
impeachment demonstra que as instituições estão funcionando plenamente e
considerou que existem elementos para que a presidente responda por crime de
responsabilidade. "Presidencialismo sem possibilidade de impeachment é
monarquia absoluta, é ditadura", resumiu ele. Hoje, classificou como
"mau-caratismo" os ataques que sofreu ao longo de todo o processo.
Mesmo com a aprovação do relatório, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ)
disse que recorrerá à justiça com pedido para que todo o processo de
impeachment seja anulado. O argumento se baseia na decisão desta quinta-feira
do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender o mandato do presidente da
Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por usar o cargo público a fim de barrar
investigações contra ele. "As decisões tomadas por ele no exercício das
funções são nulas. Então é nulo o processo", afirmou a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR), que também tentou na sessão derrubar mais uma vez o processo
de impeachment contra Dilma. "Vamos pedir a nulidade desse processo. Está
viciado desde a origem", declarou Lindbergh.
Ao longo das discussões sobre o impeachment, a própria autora do pedido,
a advogada Janaína Paschoal defendeu que os senadores se debruçassem por pontos
como os sucessivos escândalos de corrupção, os desmandos revelados na Operação
Lava Jato e a atuação do ex-presidente Lula em favor de empreiteiras. Antonio
Anastasia, no entanto, circunscreveu seu relatório às duas acusações originais
que embasam a denúncia contra Dilma - a liberação de crédito suplementar sem
aval do Congresso por meio de decretos não numerados e atrasos no pagamento de
subsídios do Plano Safra considerados pedaladas fiscais.
Aos senadores, o tucano contestou a interpretação de que o processo de
impeachment contra Dilma, se consolidado, representaria uma "ruptura
institucional" e disse que a maquiagem fiscal promovida pelo governo
afetou a lisura do processo eleitoral de 2014 e foi repetido em 2015, primeiro
ano do segundo governo Dilma. Embora anos anteriores a 2015 possam ser
utilizados para contextualizar o que o procurador junto ao Tribunal de Contas
da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira chamou de "contabilidade
destrutiva", são as irregularidades no atual mandato que estão em análise
no pedido de impeachment.
"A denúncia aponta para a irresponsabilidade do Chefe de Governo e
de Estado na forma como executou a política fiscal", disse Anastasia no
relatório aprovado hoje. Para ele, houve o "uso irresponsável de
instrumentos orçamentário-financeiros". A denúncia contra Dilma Rousseff
por crime de responsabilidade leva em consideração o fato de a petista ter
maquiado as contas públicas ao assinar decretos de liberação de crédito
extraordinário, sem aval do Congresso, para garantir recursos e burlar a real
situação de penúria dos cofres do governo, e de ter atrasado deliberadamente
repasses para o Banco do Brasil enquanto a instituição financeira era obrigada
a pagar incentivos agrícolas do Plano Safra 2015. Neste último caso, o governo
postergou o repasse de 3,5 bilhões de reais ao BB para pagamento de subsídios
aos agricultores, forçando a instituição a utilizar recursos próprios para
depois ser ressarcida pelo Tesouro. Essa operação de crédito, já que o governo
acabou por tomar um empréstimo de um banco estatal, como o BB, é proibida pela
Lei de Responsabilidade Fiscal. No caso dos decretos, o advogado-geral da União
José Eduardo Cardozo afirma que, embora tenham sido liberados créditos de 95,9
bilhões de reais, a maior parte - 93,4 bilhões de reais - seria apenas
remanejamento de recursos, e não criação de novas despesas.
Na votação, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) defendeu o
prosseguimento do processo de impeachment contra Dilma e cobrou que
autoridades, assim como cidadãos comuns, sejam responsabilizadas por seus atos.
"É uma crise econômica e moral sem precedentes. Esse processo, por
doloroso que seja, consolida a democracia no nosso país e o funcionamento livre
das instituições. A história no futuro nos indagará se tivemos coragem de
respeitar a Constituição, de afirmar e reafirmar a democracia, de fazer desse
país uma república sem privilégios, onde todos são iguais perante a lei,
inclusive o presidente da República", afirmou.
Ex-ministro da Integração no governo Dilma, Fernando Bezerra Coelho
(PSB-PE) também disse ser favorável à continuidade do impeachment, fez um
histórico dos ataques feitos pelo PT na campanha de 2014 e disse que o governo
"não teve a humildade de reconhecer os erros". "Faltou diálogo
político aos 16 meses de mandato. O governo se isolou, perdeu apoio político, a
credibilidade e a própria autoridade", declarou. "O afastamento é
inadiável. Não haverá perdão para crimes de responsabilidade", defendeu o
senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).
Discussão - Logo no início dos debates, a
sessão teve de ser interrompida brevemente depois de o senador Lindbergh Farias
ter acusado o PSDB de apoiar um eventual governo Temer para retirar direitos
trabalhistas. Um post em redes sociais feito pela assessoria do petista inclui
senadores tucanos entre os que apoiariam a redução de benefícios de valorização
do salário mínimo e de salários a aposentados. "Sabemos o motivo desse
golpe: retirar direitos trabalhistas", acusou Farias. O senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP) protestou e anunciou que recorrerá ao Conselho de
Ética e Decoro Parlamentar contra o petista por ele ter acusado os tucanos.
"Vai responder no Conselho de Ética por essa infâmia", disse.
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